Nesse primeiro Caderno de Teoria e Prática, trabalhamos as variantes linguísticas.
Já na primeira secção, tivemos contato com a crônica "Retrato de Velho" de Carlos Drummond de Andrade, meu companheiro de viagem, pois sempre que eu viajava, carregava na bolsa um livro do crônista. Enfim, o texto traz um personagem velhom de liguagem antiga, rabugento e desconfiado.
Resolvi levar o texto e as discussões feitas com os colegas gestaleiro até a sala de aula. Me interessou o Avançando na Prática da página 17.

Retrato de velho
Tem horror a criança. Solenemente,faz queixa do bisneto, que lhe sumiu com a palha de cigarro, para vingar-se de seus ralhos intempestivos. Menino é bicho ruim, comenta. Ao chegar a avô, era terno e até meloso, mas a idade o torna coriáceo.
No trocar de roupa, atira no chão as peças usadas. Alguém as recolhe à cesta, paralavar. Ele suspeita que pretendem subtraí-las, vai à cesta, vasculha,retira o que é seu, lava-o, passa- o. Mal, naturalmente.
– Da próxima vez que ele vier, diz a nora, terei de fechar o registro, para evitar que ele desperdice água.
Espanta-se com os direitos concedidos às empregadas. Onde já se viu? Isso aqui é oparaíso das criadas. A patroa acorda cedo para despertar a cozinheira. Ele se levantamais cedo ainda, e vai acordar a dona de casa:
– Acorda, sua mandriona, o dia já clareou!
As empregadas reagem contra a tirania, despedem-se. E sem empregadas, sua presençaainda é mais terrível.
As netas adolescentes recebem amigos. Um deles, o pintor, foi acometido de malsúbito e teve de deitar-se na cama de uma das garotas. Indignação: Que pouca-vergonhaé essa? Esse bandalho aí conspurcando o leito de uma virgem? Ou quem sabe se nem émais virgem?
– Vovô, o senhor é um monstro!
E é um custo impedir que ele escaramuce o doente para fora de casa.
- A senhora deixa suas filhas irem ao baile sozinhas com rapazes? Diga, a senhora deixa?
– Não vão sozinhas, vão com os rapazes.
– Pior ainda! Muito pior! A obrigação dos pais é acompanhar as filhas a tudoquanto é festa.
– Papai, a gente nem pode entrar lá com as meninas. É coisa de brotos.
– É, não é? Pois me dá depressa o chapéu para eu ir lá dizer poucas e boas!
Não se sabe o que fazer dele. Que fim se pode dar a velhos implicantes? O jeito éguardá-lo por três meses e deixá-lo ir para outra casa, brigado. Mais três meses, e nova mudança, nas mesmas condições. O velho é duro:
– Vocês me deixam esbodegado, vocês são insuportáveis! – queixa-se ao sair.Mas volta.
– Descobri que paciência é uma forma de amor – diz-me uma dasfilhas, sorrindo.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Retrato de velho. In A bolsa & a vida. Rio de Janeiro, 1962. p. 207-209.
Com cópias da crônica de Drummond em mãos, os alunos fizeram uma leitura silenciosa primeiramente. Logo após, reli com eles o texto em voz alta e imaginamos as características dos personagens: o velho, as netas adolescentes, as empregadas... Mais interessante foi ver os alunos já encenando as expressões do velho, os gestos, sem falar que eles adoram teatro.
A partir daí, dividi os alunos em três grupos e pedi que ensaiassem a leitura utilizando do que discutimos antes sobre as caracterísiticas dos personagens.
Procurei fazer essa atividade em duas aulas, com mais tempo então, os alunos trabalharam a oralidade, expressão e leitura.
Após ensaiados, cada grupo fez a leitura utilizando-se de várias formas para identificar os personagens!
Foi uma aula super proveitosa e prazerosa!

OI, Ruty!
ResponderExcluirParabéns pelo blog!O mais importante de tudo é que na medida do possível vc conseguiu aplicar as sugestões do Gestar em sala de aula. Para ficar show de bola, insira os pefis: escola onde vc atua e cidade.
Um abraço.